Casa da Mãe Joana e traições no jogo da Matriarca

Há um seriado muito interessante no “canal prime vídeo”. Verdadeira aula de ciências políticas. Ambientado em Florença do século 15, trata do domínio da Família Medici. Lorenzo di Medici é o protagonista, personagem que inspirou Maquiavel na escrita do livro “O Principe”. Aliás, a quem, dedica o livro. Primoroso presente à humanidade, principalmente aos amantes do Poder. Certamente, deve ser o livro preferido da Matriarca.

O seriado mostra uma Família, em plena decadência, em seus negócios financeiros, tentando se salvar. No centro do teatro da crise, está Lorenzo di Medici, o “Magnífico”. Desde criança, ele vive drama dos conflitos entre princípios religiosos e exigências éticas pragmáticas. Lorenzo cresce embalado pelas fantasias de Poder da mãe, um misto de religião e política. Aos poucos, nesse cenário paradoxal, Lorenzo se vê como salvador dos sonhos da Família.

Daí pra frente, passou a usar a religião como instrumento de Poder. A missão dele era a de resgatar o prestígio da Família. Convive, de um lado, com vaidades e intrigas familiares, e, do outro, com as ambições dos concorrentes. Ele, inicialmente, joga todo o peso das articulações na Igreja e ambições dos concorrentes. Constrói alianças familiares e até mesmo com os principais concorrentes: Vaticano e Veneza.  

Aposta nas relações de fidelidades e traições. Ele sabe que, nesse jogo, há quem gosta dos olhos; há também os que gostam da remela; mas há também os que apreciam os dois, de acordo com as circunstâncias.  Sabe também que ele pode contar com o serviço limpo ou sujo deles. Porém, sabe que não pode descartar o uso deles pelo adversário. Daí todo o cuidado para não ser vítima. Também sabe que a grande tábua de salvação está em trabalhar bem as ambições carnais da hierarquia das instituições consideradas sagradas. 

Dentro da hierarquia, entre a paróquia e o Papa, há as dioceses, que aprenderam o jogo de conciliar os interesses de acordo com as circunstâncias favoráveis. Elas têm o poder de trancar e/ou dar continuidade ao jogo com base nas sutilezas do processo canônico. Detêm considerável grau de poder.

O seriado também evidencia uma lição importante em relação aos que gostam dos olhos e/ou da remela. Há nelas uma enorme diferença de exposição pública. A Diocese está menos exposta do que o Papa. A Diocese funciona como escalão intermediário e está mais bem protegida. Aliás, é o chamado 2º escalão dos poderes. Mas, por outro lado, quando há forte disposição de pegar o príncipe, as denúncias quase sempre envolvem membros do 2º Escalão.

De olho na paróquia e no Papa, Lorenzo jogou pesado sobre os interesses no 2º escalão. Transformou fiéis em traidores e traidores em fiéis. Sabia também como o poder simbólico do mimo funciona bem nessas articulações. Ele realizou ricas encomendas, fato que o tornou um emblema do mecenato. Fez doações caríssimas de obras de arte  e incentivo cultural, além de outras encomendas obscuras.

Assim, Lorenzo soube colocar fim às disputas com Veneza e Milão, dois importantes polos de prosperidade na Itália de então. Assim, Lorenzo conseguiu dar proteção ao eixo formado por Florença, Milão e Nápoles. Neutralizou as ambições venezianas e da cúpula papal criando condições favoráveis para impulsionar o Renascimento.

Em relação à Casa da “Mãe Joana”, o profeta anônimo já antecipou que a Matriarca iria aproveitar o tempo entre Festas de Final de Ano e fantasias carnavalescas para mudar o jogo. Tudo indica que a profecia está se realizando e a desvantagem pode mudar de endereço. Claro, com ajuda prodigiosa dos serviçais do 2º Escalão.      

Enfim, o jogo ainda não terminou. Ainda, há muita água pra rolar sob a ponte e vela pra queimar no altar sagrado da deusa Têmis. Quem vai vencer o jogo? Ainda não dá pra definir.  “Quem viver verá”…

Rubens Galdino da Silva – Professor e jornalista (MTB/SP 32.616)

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Filósofo Clínico, professor e jornalista (MTB 32.616). Possui formação em Teologia, Filosofia, Filosofia Clínica e História, com doutorado em História pela UNESP. Atualmente, é professor na Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), onde orienta TCC aos alunos do curso de Direito; membro do Cadastro Nacional e Internacional de Avaliadores do CONPEDI e articulista do Jornal da Segunda de Assis.

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Rubens Galdino

Possui formação em Teologia, Filosofia e História, com doutorado em História pela UNESP. Foi editor dos jornais “O Adamantinense” e “Jornal da Cidade”, além de fundador da Revista Omnia. Atualmente, é professor na Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), onde supervisiona projetos no curso de Direito e é membro do Cadastro Nacional e Internacional de Avaliadores do CONPEDI.

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