As crônicas da Casa da Mãe Joana andaram um pouco adormecidas. Provavelmente, em estado de alerta, no forno do tempo, à espera de uma jogada inteligência, que mereça comentários. Ademais, a crônica é um jeito leve de falar de coisas sérias.
Se não falha a memória, foi o escritor mexicano Octavio Paz, prêmio Nobel em Literatura, que disse ser o chiste mais engraçado aquele que faz pensar. Mas não precisamos ir tão longe. Chico Buarque e Geraldo Vandré fizeram uso abundante da “crônica musical”.
Bem, voltando à Casa da Mãe Joana, uma das lições mais preciosas no jogo de Xadrez é a tática de fazer da Rainha uma arma implacável no combate aos adversários. Ela deve ser sagaz e impiedosa, sem trégua. Não é à toa que ela tem livre trânsito, desde que não esteja encurralada. Uma vez encurralada e sem saída, resta-lhe a rendição.
Evitar que isso aconteça é uma das grandes preocupações da Matriarca. Assim, além da beleza e sensualidade, o quesito inteligência e sabedoria são indispensáveis. Porém, de todas a qualidades, o que mais pesa é o fator inteligência e sabedoria. O Rei está autorizado a se sentir à vontade nas alcovas, desde que seja comedido e sem holofotes.
Porém, por um descuido da Matriarca, na Casa da Mãe Joana, o Rei ficou sem a querida Rainha. O leite da vaca azedou. Por outro lado, o Rei pode contar com dois Bispos, um deles com status de Superbispo. Os Cavalos e as Torres já foram abatidos, restando-lhe alguns peões, fiéis escudeiros. Na prática, a Matriarca conta apenas com o Superbispo. Embora, descrente da capacidade dele de sobreviver às espadas e flechas dos adversários, esforça-se para acreditar no sucesso das iniciativas dele.
Atualmente, o Superbispo está encurralado pela Rainha, bispos Cavalos, Torres e peões dos adversários no campo de batalha. Em meio às espadas e flechas, tem buscado reforços extras profissionais de longa experiência na defesa de seus clientes. Eles conhecem bem o jogo do Poder em nível paroquial, diocesano e, até mesmo, da Nunciatura, em Brasília. Sabem lidar serenamente com os desafios e desafetos.
A princípio, têm tudo para ser bem-sucedidos. A questão é a de saber se a conquista, a médio prazo, terá sustentabilidade. O grande dilema é identificar se as espadas e as flechas do adversário têm poder de abate. Há dúvidas e elas também têm servido de carvão para manter o Superbispo na luta, embora muito arranhado pelas circunstâncias. Alguns arranhões já expuseram a carne da alma dele. A bem da verdade, é admirável como o Superbispo enfrenta a situação. O despudor é a marca mais visível. É como se o circo em chamas e nada estivesse acontecendo ao mesmo tempo.
Não importa quem vai ser esturricado, desde que “minha pele” esteja a salvo e sã. Esta postura dele tem uma expressão bem chique para retratá-la: “pragmatismo político”. Aliás, hoje está em moda. A tradição cultural e jurídica anglo-saxônica (common law) ganha uma versão brasileira, enviesada pelo humor latino, pragmático e individualista do Império Romano. A grande dúvida, porém, é a repercussão nas redes sociais. Quase sempre, elas estão atentas e ácidas com os bastidores do Poder.
Mas tudo indica que a Matriarca, com a coragem e ousadia do Superbispo, não está interessada na preservação do bom nome da Casa da Mãe Joana. Ela sabe que, na guerra, a vitória é mais importante do que os princípios. O poder é pragmático e só conhece o jogo do resultado. Diante das jogadas confusas e inesperadas, ainda não dá para ter certeza de quem vai levar o troféu. Enfim, a incógnita ainda permanece. O jogo está em andamento. Somente, como diz o profeta anônimo, “quem viver, verá”!
Rubens Galdino da Silva – Professor e jornalista (MTB/SP 32.616)