Há um ditado popular muito explorado para dizer como funcionam as leis no Brasil. Tem origem no Brasil Imperial. Com a condição de país independente, era necessário alinhavar a prática política e administrativa às expectativas da comunidade internacional, em especial do Reino Unido, que era um grande parceiro comercial. Uma das exigências dos ingleses era a de acabar com a escravidão negra no País do “faz de conta”.
Assim, o Parlamento brasileiro, pensando nas vantagens das boas relações comerciais, editou normas de combate à escravidão, com punições aos súditos transgressores. No fundo, o objetivo da adoção nada tinha a ver com a mudança da realidade social. O objetivo era o de apenas atender as demandas do Reino Unido. Daí o famoso ditado: “para inglês ver”. Somos uma cultura amante das aparências, até nas cordialidades, como bem concluiu Sérgio Buarque de Holanda.
Já se foram 200 anos. Pouco, ou quase nada mudou. Há uma enciclopédia de normas, que só existe na biblioteca de vitrine. Na hora de aplicá-las, fica a sensação estranha de que tudo beneficia os plantonistas do poder. Florestan Fernandes, referindo-se aos ideais republicanos gravados na Bandeira Nacional, fez um brilhante comentário: “Ordem, para quem está em baixo; progresso, para quem está em cima”.
Assim tem funcionado. Quem paga a conta, quase sempre, é quem está em baixo. Há um crivo social seletivo cruel. Daí a famosa frase, “O Brasil não é um país sério”, dita originalmente pelo diplomata brasileiro Carlos Alves de Souza Filho ao jornalista Luís Edgar de Andrade, correspondente do Jornal do Brasil em Paris no contexto da Guerra da Lagosta. Ela virou jargão, quase sempre invocada quando o assunto é moralidade pública. Aliás, a referida frase tem sido atribuída equivocadamente a Charles de Gaulle, ex-presidente da França.
Bem, voltando à Casa da Mãe Joana, fica a sensação de que a situação não é diferente. A casa tem Estatuto e Regimento. Quase sempre, são aplicados de acordo com as conveniências das circunstâncias. A lógica que impera é aquela da propaganda do cigarro “Vila Rica”, protagonizada pelo campeão brasileiro da Copa de 70 no México, Gerson: “O importante é levar vantagem”. Esse moto passou para história como a “Lei de Gérson”.
Deste modo, para garantir os resultados das vantagens na Casa da Mãe Joana, a máquina funciona no esquema de hierarquização de cargos, privilégios e salários. A Matriarca da Casa sabe cuidar bem disso. Assim, acaba cooptando e ajeitando os interesses de cada filho dileto. O que importa é a sobrevivência do Bispo para garantir as nomeações paroquiais e as respectivas côngruas.
Quanto aos outros filhos “persona non grata”, devem se contentar com as migalhas que caem à mesa. Se não estão contentes, não tem problema. Estão livres para desembarcar noutros portos, com seus sonhos na mala. Afinal, a Casa da Mãe Joana não é para sonhar e, sim, viver de cabeça baixa como ovelha para o matadouro. A ordem é a de preservar os interesses da Matriarca, sem pudor nem escrúpulos.
Para isso, a chicotada dos filhos capachos, perseguindo ou retaliando, opera bem. E como dói! Dói no corpo e na alma. Reclamações não faltam. A humilhação é a voz de comando de quem não tem argumentos plausíveis. Afinal, usam esse esquema por se sentir imunes e impunes, claro, debaixo da capa sagrada da Matriarca.
Na última jogada, a Matriarca conseguiu importante avanço na recuperação do Superbispo com a decisiva ajuda da submissa deusa Minerva. Aliás, bola antecipadamente cantada no jogo do Bingo. Assim, por enquanto, ninguém está autorizado a mexer com ele. Permanece gozando suas merecidas férias “coloniais”, sem ser importunado. Claro, o tempo é a grande arma na mão da Matriarca. Agora é o momento de conferir a próxima jogada. O jogo continua e as expectativas são grandes. Depois dessa, será que o Superbispo vai cair? O tabuleiro ainda reserva muitas jogadas. Quem viver, verá!
Rubens Galdino da Silva, Jornalista (MTB/SP 32.616) e professor