A ideia de alguém capaz de viver sem cobiça seria algo inimaginável. Seria o mesmo que eliminar o desejo da condição humana. Outros seres viventes movem-se por instinto. Nada fazem senão aquilo que está biologicamente programado. No humano, o desejo é um elemento essencialmente vinculado às pulsões de vida e morte. Situa entre demandas fisiológicas e psíquicas.
Embora a experiência dê fortes indícios, é difícil aceitar que mesmo o cão domesticado age em função de desejos. Nesse sentindo, o desejo transcende às necessidades básicas de viver. Como expressão da psiquê, move-se do comportamento socialmente aceitável às raias do absurdo.
Atribui-se ao dramaturgo e poeta romano, Públio Terêncio Afro, a frase: “Nada do que é humano me é estranho”. Trata-se de uma frase intrigante, que faz de Calígula a Hitler, no campo da moral e da ética, qualquer atitude é humanamente possível. Numa interpretação extensiva, o ser humano é capaz de praticar algo inimaginável. Está potencialmente apto a qualquer ator de terror e horror.
Para domá-lo, criamos instrumentos repressivos e punitivos, que no rastro das narrativas religiosas e moralistas procuram tornar a convivência humana possível.
Basicamente, há duas teorias que tentam iluminar nossa compreensão humana. A primeira é a de Hobbes, que concebe o ser humano como essencialmente egoísta. Portanto, nasce mau e desatinado, se necessário, a toda prática de maldade para satisfazer a sua vontade de poder. A maldade seria congênita, incurável. Assim, somente a certeza da cruel punição poderia, em tese, remediar o egoísmo desenfreado.
A segunda é a de Rousseau, que, numa perspectiva romântica, afirma que o homem nasce bom e a sociedade corrompe. Desse modo, a bondade seria a essência da própria condição humana. A maldade seria negação dela, motivada pelas circunstâncias históricas e sociais.
Confesso que tenho muita dificuldade de me situar nesse debate. Ora, vejo que Hobbes está coberto de razão; ora, Rousseau. De qualquer modo, são questões de difícil contorno. Mas, quando o assunto é “política e poder”, dificilmente consigo olhar com óculos de Rousseau. Quando acontece, logo me deparo com a decepção. Trata-se de uma decepção comigo mesmo por ter caído nas armadilhas discursivas do objeto do meu desejo.
A experiência tem me ensinado que Hobbes é mais recomendável para conviver com o mundo da “política e do poder”. Pelo menos, não me decepciona tanto nem me sinto traído pelo meu próprio desejo. Aliás, bem antes de Hobbes, o Profeta Jeremias afirmou: “Assim diz o Senhor: -Maldito é o homem que confia nos homens” (Jeremias 17:5).
Assim, esperar de políticos, plantonistas no exercício Poder, conduta pró-ativa em benefício da sociedade beira à ingenuidade. Quase sempre, se movem pela cobiça daquilo que pode agregar valores aos seus interesses particulares e de grupos. Quando há um gesto favorável à sociedade, quase sempre, é motivado por outros interesses. A sociedade costuma ficar com aas migalhas que caem à mesa do Trono.
Ah, falando em Trono, tudo indica que a Matriarca está toda articulada para virar o jogo. Já conseguiu, no tabuleiro do Xadrez na “Casa da Mãe Joana”, transformar um peão em Rainha. Agora está se preparando para reconquistar o Bispo, o Cavalo e a Torre. Ela aposta piamente que, até o final do ano, consiga recuperar plenamente a menina dos olhos de seu desejo: “Casa da Mãe Joana”. É como se fosse uma vaca leiteira, bem nutrida, apta para amentar os filhotes do Poder. Serviçais para isso não faltam. Trata-se de uma cobiça que persegue implacavelmente a mente da Matriarca.
Enfim, a expectativa da Bandeira Sagrada, que se consiste numa Casa da Mãe Joana livre dos tentáculos dos plantonista do poder, poder virar cinzas do tempo. “Quem viver, verá”, assim diz o profeta anônimo.
Rubens Galdino da Silva – Jornalista (MTB/SP 32.616) e professor.