Há um velho e conhecido ditado popular que reza que “Rei morto”, rei posto”. Aliás, Vinícius de Moraes usou esse ditado num de seus mais belos poemas, intitulado “Hora Íntima”. Quem nunca leu, vale a pena a leitura.
Os intelectuais costumam usar uma linguagem mais “sofisticada”. Referem-se ao mencionado ditado com a clássica frase: “a lógica do poder impõe sucessor”. Noutras palavras, o poder não vive sem sucessor, independentemente do perfil, se é vermelho ou azul. Alguém, imediatamente, vai ocupar o trono. Ele nunca fica vazio.
No caso da Casa da Mãe Joana, o Rei ainda está vivo. Claro, sem a Rainha, tem que se valer de outros recursos. Hoje, depois de quase um ano, a Matriarca perdeu o apoio do superpoder do Bispo. Ele, apesar de acumular várias acusações, conseguiu “miraculosamente” não ser importunado por ninguém. Daqui para frente, vai ter suas articulações limitadas aos fiéis seguidores. Mas pode voltar com “pompas e circunstâncias” desde que a Matriarca seja capaz de pensar jogadas inteligentes. É bom lembrar que a Rainha ainda atua nos bastidores.
A Casa da Mãe Joana, apesar de poderosa, inevitavelmente vive num ambiente social. Está sujeita às regras morais e legais. Os filhos dela têm vida social como todos, uns mais outros menos. Frequentam clubes, restaurantes, cafeterias, enfim, reuniões sociais. Nesses eventos, há muitas chacotas. Algumas por desconhecimento. São daqueles que colocam todos os filhos no mesmo caldeirão para fervura. Há, porém sempre alguém mais cuidadoso e racional, que questiona o caso. Isso acaba gerando muitos incômodos e indignação. Outros, tão acostumados com o que veem, acabam num descredito total. Tornam-se céticos e, quase sempre, preferem nem mesmo comentar o assunto.
Porém, numa mesa qualquer de truco, sempre há aquele que, de forma provocativa, pergunta: “-como pode alguém ter sobrevivido na função por quase um ano, tendo o peso de diversas acusações sobre si mesmo?” Depois de um silêncio, alguém cauteloso se arrisca: “-Faz quase um ano? Como o tempo passa rápido. É, no mínimo, estranho.!!!” Outro, depois de uma “birita”, completa: “-Eu não tinha pensado nisso, mas tudo é possível. É muito tempo, né? Esse Bispo deve ser muito poderoso mesmo. Deve ter costas largas e quentes”.
Geralmente, nessas reuniões sempre tem alguém metido a intelectual pronto para fazer o discurso refinado. Aí desfere: “-A corrupção, neste País da República das Bananas, é endêmica e estrutural. Acontece desde o Brasil-Colônia”. Em seguida completa: “-Herdamos uma prática administrativa da coroa portuguesa chamada “patrimonialismo, que confunde interesses públicos com os privados”. Diante da exímia explicação, alguém menos sofisticado, pergunta: “-É a tal da misericórdia franciscana de que é dando é que se recebe?”
Assim, a Provincia fica em burburinhos. Com olhos atentos nas pedras do tabuleiro, provincianos mais interessados e curiosos ficam de prontidão. Querem saber qual é a jogada atualizada dos bastidores da disputa entre a Matriarca e seus filhos agregados, de preferência, saindo do forno. Mas a mídia local exagera na cautela. Não se sabe bem o porquê, mas é, no mínimo, preocupante. Costuma infantilizar. Transforma um direito do leitor ou ouvinte numa arma dela.
Enfim, a vida passa. A roda do tempo não perdoa. Hoje, o tempo é a grande arma da Matriarca. Ela tem se beneficiado nesse jogo de xeques sem mate. Ainda conta com muitos peões, ajuda das torres e de um dos bispos. Todos protegem-na usando o jogo sentimental de discursos e influências. Agora a Matriarca está provisoriamente sem o superbispo e pode ficar isolado e exposto. Tudo depende da boa articulação dos filhos que almejam mudanças. Assim, a província continua entre decepções, esperanças e, às vezes, com o sentimento do “Deus dará”. O jogo continua e as expectativas são grandes. Depois dessa, o Rei vai cair? Quem viver, verá!
Rubens Galdino, Jornalista (MTB/SP 32.616) e professor