Mãe Joana, enxadrista nata!

Quem tem vocação para o Poder já é, em si mesmo, um enxadrista nato. A Mãe Joana é um desses. Perdendo ou ganhando, move as pedras do tabuleiro. O alvo é o de ampliar o plantão. Sabe que para sobreviver, no poder, precisa jogar bem cada partida. Caso contrário, está condenada ao expurgo. Para continuar no mando, nada de escrúpulo. Escrúpulo é coisa de religiosos, principalmente de quem espera uma recompensa celestial.  A política é a arte do possível, com resultados. Sem resultados, o príncipe vira pó de traque nas fogueiras juninas.

Recentemente, ocorreu um lance interessante. Nele, a Matriarca fez uma jogada de Mestre. Cansado de seus filhos rebeldes, conseguiu uma Autorização Superior para mudanças nas regras de funcionamento da Casa. Há tempo, reclamam-se adequações da “Casa da Mãe Joana” ao “politicamente correto”. Algumas já ocorreram. Outras adequações, principalmente de ordem estrutural e funcional, ainda estão à espera de iniciativas ousadas.

O que chamou atenção foi o texto de Autorização ter virado pretexto para o arbítrio. Claro, como sempre, em nome da “moralidade”. Aliás, próprio do espírito totalitário. Ele é sedutor e agrada muito o senso comum que, movido por “princípios”, cai de paraquedas no solo das ambições dos plantonistas do Poder. Exemplos não faltam, principalmente na terra da bota de cano longo.

Para conseguir a referida Autorização de seus desejos carnais, a Matriarca usou a Rainha para ser comida. Entregou-a, aparentemente, aos leões famintos. Aliás, coisa rara no jogo de xadrez, principalmente nas jogadas decisivas da partida. Já vimos essa estratégia com bispo, no qual o enxadrista deu xeque-mate direto. O adversário foi nocauteado nos primeiros lances.   Fazer o mesmo com a rainha é possível. Alerta-se ser jogada de alto risco.

Vale o risco? Sim e não. Sim, porque pode ser uma oportunidade de liquidar a fatura, dar fim à partida e continuar com o jogo à espera de adversários mais bem preparados. Porém, não foi o que ocorreu. O tiro saiu pela culatra.  Pior, ficou sem a rainha, que é ardilosa e experiente nas articulações. Agora tem que se contentar com o poder dos bispos junto ao baixo clero. Aliás, que, ultimamente, não anda nada bem. Além disso, o jogo limita bem o poder dos bispos, reduzindo-o à operacionalidade vassálica.  Os bispos andam sobre as linhas da cruz e não podem sair delas. Só podem punir quem está nos trilhos da cruz. No máximo, às vezes, aceita-se conselho deles. 

Sabe, observando o cenário, acredita-se que a Matriarca foi com muita fome ao pote. Poderia ter sido muito bem sucedida se tivesse percebido que o sucesso da estratégia dependeria de outras jogadas sutis. O Poder cega facilmente, principalmente aqueles que gostam de governar com o umbigo e movidos pelas paixões. Costumam meter as mãos pelos pés e descuidarem da Razão e do motivo de existir. Claro, simplesmente como “políticos.”    

Mandar na “Casa da Mãe Joana” não é um exercício fácil.  A “Casa está virando mina de ouro” e tem atraído muitos especuladores paraquedistas, alguns inescrupulosos. Nessa altura do campeonato, a maioria dos filhos tem reagido para evitar a anunciada tragédia.

Por outro lado, é bom lembrar que a Matriarca perdeu apenas uma partida na fase classificatória, mas o jogo continua e pode chegar vitoriosa no eliminatória. Ela sabe bem disso. Sabe que pode salvar seu reinado e ganhar o campeonato. É bem difícil. O Poder costuma ser um rolo compressor. Não gosta de príncipes incautos, principalmente daqueles que governam com as vísceras. Esse tipo de plantonistas não tem vida longa.

Enfim, vamos aguardar, com paciência, o desfecho final. Quem viver, verá…

Rubens Galdino da Silva – Jornalista (MTB/SP 32.616) e professor  

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Filósofo Clínico, professor e jornalista (MTB 32.616). Possui formação em Teologia, Filosofia, Filosofia Clínica e História, com doutorado em História pela UNESP. Atualmente, é professor na Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), onde orienta TCC aos alunos do curso de Direito; membro do Cadastro Nacional e Internacional de Avaliadores do CONPEDI e articulista do Jornal da Segunda de Assis.

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Rubens Galdino

Possui formação em Teologia, Filosofia e História, com doutorado em História pela UNESP. Foi editor dos jornais “O Adamantinense” e “Jornal da Cidade”, além de fundador da Revista Omnia. Atualmente, é professor na Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), onde supervisiona projetos no curso de Direito e é membro do Cadastro Nacional e Internacional de Avaliadores do CONPEDI.

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